Polêmica: maconha também pode servir como remédio?
Por: Fernanda Reis
Fonte: Folha de S.Paulo
Aos cinco anos de idade, Anny Fischer tinha mais de oito convulsões por dia. Com 35 dias de vida, Sofia Brito teve a primeira crise epiléptica. Eram casos sem remédio, até a descoberta do canabidiol, retirado da maconha.
Apesar de a substância ser proibida no Brasil, Katiele e Margarete, mães, respectivamente, das duas meninas, não hesitaram em importá-la dos Estados Unidos, onde é comercializada. Sua batalha para trazer o remédio legalmente ao Brasil é o ponto de partida do filme “Ilegal”, que estreia nesta quinta em 20 cidades do Brasil (incluindo quatro salas em São Paulo).
O documentário nasceu de reportagem sobre maconha medicinal escrita pelo jornalista Tarso Araújo codiretor do longa, com Raphael Erichsen para a revista “Superinteressante”, que o produz.
Durante as pesquisas para o texto, Tarso deparou-se com Katiele. “Eu queria contar a história dela para ver se sensibilizava um juiz que a ajudasse a conseguir o remédio de maneira legal”, conta.
A primeira ideia que teve foi lançar um curta. “Queria que as pessoas vissem e pensassem: Caraca, mas maconha é remédio?`.”
Lançado no fim de março na internet, o curta chamou a atenção do programa “Fantástico”, da Globo, que propôs a pergunta: Se você fosse pai ou mãe de uma criança como Anny, importaria o remédio apesar da proibição?
A história ganhou repercussão na mídia e Katiele conseguiu na Justiça uma autorização especial para importar o CBD, substância não psicoativa ou seja, que não dá “barato” encontrada na Cannabis sativa. Tomando o CBD, conta o documentário, Anny passou de 60 convulsões semanais a zero.
BRASÍLIA
Para conseguir uma autorização é preciso ter o pedido de um médico. Como a substância é proibida no Brasil mas não nos EUA, onde a maconha medicinal é legalizada em 23 Estados, poucos se dispõem a fazê-lo.
Katiele não se deu por satisfeita em obter o remédio apenas para a filha e, com outras mães, como Margarete, foi a Brasília, conversou com políticos e participou de reuniões pela legalização do CBD.
O processo foi acompanhado por Tarso e Raphael, que transformaram o curta em longa em seis meses. O filme não se limita a acompanhar a briga pelo CBD e retrata pessoas que usam maconha de outras formas como tratamento, para problemas que vão de dor crônica a efeitos colaterais de quimioterapia.
“A gente queria contar histórias. Não é um filme sobre maconha, é sobre luta e pessoas que se engajam numa causa”, diz Raphael. “Não queremos que as pessoas saiam do cinema com estatísticas na cabeça, e sim que pensem: O que fazer agora?`.”