Fumantes correm mais risco de vida
Fumar é um hábito que não traz benefício algum para a saúde de quem fuma e de quem está próximo. Neste sábado (29.08), é comemorado o Dia Nacional de Combate ao Fumo, uma data instituída em 1986 pela lei nº 7.488, criada com o objetivo de conscientizar e mobilizar a população sobre os riscos decorrentes do uso do cigarro.
A indústria do tabaco arrastou, ao longo do século 20, quase um terço da população mundial a fumar cigarros, iniciando pelo público masculino e estendendo-se progressivamente às mulheres. Ao captar os modismos, crenças e conquistas sociais do gênero em diversos períodos históricos, a indústria massificou o uso do tabaco de tal forma e intensidade, a ponto de fumantes de classes socioeconômicas mais desfavorecidas abrirem mão do próprio alimento para não deixarem de adquirir o produto símbolo do desejo, do alívio e do prazer.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), o tabagismo é a principal causa de morte evitável no planeta. No Brasil, estima-se que cerca de 200 mil pessoas morram todo o ano em decorrência do fumo. As mortes ocorrem principalmente através de infarto, que tem se tornado cada vez mais frequente também entre os jovens, ou do câncer de pulmão, uma das doenças mais agressivas provocadas pelo fumo.
O farmacêutico, por ser o profissional de saúde que tem contato com o maior número de pessoas saudáveis e doentes, possui um grande potencial para implementar medidas que contribuam para a promoção da saúde e cessação do tabagismo.
O Conselho Regional de Farmácia de Mato Grosso (CRF-MT), entrevistou dois farmacêuticos para falar sobre este problema.
Fabrício Vieira Caram é farmacêutico formado na UNIVAG. Foi membro das Comissões de Ensino e Jovens Farmacêuticos do CRF-MT. Atualmente é diretor-tesoureiro da Sociedade Brasileira de Farmacêuticos e Farmácias Comunitárias (SBFFC-MT), é membro do Comitê de Crise para ações de enfrentamento do CRF-MT. Atua na farmácia comunitária em duas redes privadas, em Cuiabá e Várzea Grande.
Fabrício Caram explica que o farmacêutico pode orientar os pacientes sobre os males que as substâncias do cigarro causam ao organismo, bem como sugerir mudança nos hábitos de vida. “Podemos informar todas as reações adversas que o paciente sentirá ao mudar os hábitos, o que também contribui muito para a melhor adesão do paciente ao tratamento”.
Fabricio destaca que a maioria dos fumantes se torna dependente da nicotina antes dos 19 anos de idade. Há vários fatores que levam as pessoas a fumar, dentre eles a publicidade direta e indireta que é dirigida principalmente aos adolescentes, jovens e mulheres e fornece uma falsa imagem de que fumar está associado ao bom desempenho sexual e esportivo, ao sucesso, à beleza, à independência e à liberdade.
“O tabagismo prejudica os fumantes e os que estão a sua volta, os chamados tabagistas passivos. Isto ocorre devido à inalação de substâncias tóxicas da fumaça, pois a fumaça que sai da ponta do cigarro e se difunde no ambiente contém em média 3 vezes mais nicotina, 3 vezes mais monóxido de carbono e até 50 vezes mais substâncias cancerígenas do que a fumaça que o fumante inala. Portanto, esta exposição pode causar ainda mais problemas do que ao próprio fumante e não existe nível seguro de convívio”, afirma Fabrício.
O presidente da Sociedade Brasileira de Farmacêuticos e Farmácias Comunitárias (SBFFC-MT), Luis Köhler, ressalta que a farmácia, dada sua capilaridade e proximidade com o paciente, é um ambiente de saúde estratégico para programas de triagem e educação em saúde relacionados à redução de tabagismo e que a triagem de pacientes em campanhas de saúde pode ser o primeiro passo para seu engajamento nesse serviço.
Köhler admite que não é fácil parar de fumar, mas reforça a tese de que o tabagismo é uma doença, e como tal deve ser tratada. De acordo com ele, há hoje tratamentos eficazes para combater o mal do fumo. Basta ter força de vontade e disposição para deixar de fumar.
O farmacêutico afirma que desde 2002, o Ministério da Saúde juntamente com as Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde vem organizando uma rede de unidades de saúde do SUS para oferecer tratamento do tabagismo para os fumantes que desejam parar de fumar. “O tratamento é realizado por profissionais de saúde e composto de uma avaliação individual, passando depois por consultas individuais ou sessões de grupo de apoio, nas quais o paciente fumante entende o papel do cigarro na sua vida, recebe orientações de como deixar de fumar, como resistir à vontade de fumar, e principalmente como viver sem cigarro”, finaliza Köhler.
Fabrício informa que o cigarro eletrônico funciona de maneira diferente, mas traz malefícios semelhantes ao cigarro tradicional e, ao contrário do que se propaga, na maioria dos casos não ajuda a controlar o vício. “Os cigarros eletrônicos são um desastre, está claro que ele é tão ruim quanto o tradicional quando falamos em doenças cardíacas e, potencialmente, pior para os problemas de pulmão. Os riscos são os mesmos e os números mostram que, em países onde o uso é legalizado, o cigarro eletrônico acaba atraindo crianças que provavelmente não experimentariam o cigarro tradicional”, alerta.
Câncer
O cigarro pode causar diversos tipos de câncer ao paciente. Para ilustrar o problema, a estimativa do INCA é que em 2020 o país tenha 30.200 novos casos de câncer no pulmão, sendo que o tabagismo é o principal fator de risco. Porém, a doença também acomete outros órgãos em decorrência do vício, veja só:
- boca;
- traqueia;
- faringe;
- laringe;
- esôfago;
- pâncreas;
- rins;
- fígado;
- bexiga;
- estômago;
- colo do útero.
Ataque cardíaco
Fumar também deixa o paciente mais propenso a desenvolver problemas do sistema circulatório e do coração. De acordo com estudos, as estimativas sobre o assunto demonstram que há um aumento de risco de doença cardíaca coronária e acidente vascular cerebral (AVC) de duas a quatro vezes. Isso também pode causar o aumento da pressão arterial e ataque cardíaco.
Diversas doenças
Existe uma lista extensa de problemas de saúde que podem se desenvolver ou ter o quadro agravado pelo uso contínuo do cigarro. A seguir, listamos os principais:
- diabetes tipo 2;
- infertilidade e impotência sexual;
- problemas de saúde bucal (inflamações na gengiva e estruturas dos dentes);
- pneumonia;
- catarata;
- úlcera do aparelho digestivo;
- osteoporose.
Dependência
Devido ao volume de substâncias encontradas no cigarro e aos diversos derivados do tabaco que são psicoativos, seu consumo produz a sensação de prazer. Por causa disso, muitos pacientes começam a abusar do uso e acabam desenvolvendo a dependência à nicotina.
Como em outras drogas, o organismo pode se acostumar aos níveis de substâncias inaladas, fazendo com que a sensação tenha menos efeito. Como consequência, o usuário fuma ainda mais cigarros e, cada vez mais, agrava o vício.
Morte
As doenças que podem surgir ou se agravar em decorrência do tabagismo podem causar a morte do paciente. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, o tabagismo é responsável por mais de 8 milhões de óbitos todos os anos. Entre eles, cerca de 7 milhões são fumantes ativos, que morrem por problemas decorrentes do uso excessivo da substância. Porém, o restante — cerca de 1,2 milhão de mortes — decorre da exposição ao fumo passivo.