Farmácias revelam receita do sucesso
Por: Luiz Perlato
Fonte: CRF-MT
Atendimento personalizado, oferecido por farmacêuticos em tempo integral, atraem a clientela
De acordo com a Lei 13.021/14, toda farmácia tem que ter um farmacêutico responsável, durante todo o horário de funcionamento, para assegurar à população o direito à orientação farmacêutica na hora de comprar os medicamentos. Para preservar este direito da sociedade, no final do ano passado farmacêuticos de todo o país tiveram que se mobilizar como nunca havia acontecido até então, para barrar a Medida Provisória 653/14, que praticamente tirava o farmacêutico das farmácias.
Um levantamento feito pelo Conselho Regional de Farmácia do Estado de Mato Grosso comprova que as farmácias com mais farmacêuticos no atendimento são mais procuradas pela clientela, a tal ponto que, percebendo o aumento da demanda, alguns donos de farmácia hoje estão investindo na contratação de farmacêuticos muito além do que a lei exige.
Investir na contratação de farmacêuticos vale a pena. Quem diz isso é o empresário de Várzea Grande Osvaldo Jorge Nogueira, que é dono de duas farmácias com 26 funcionários, em que quatro são farmacêuticos, além dele.
Segundo o empresário, o custo é diluído no retorno que se tem do investimento. “O trabalho é recompensado”, garante ele, acrescentando que, na sua opinião, as demais farmácias lucrariam mais e só teriam a ganhar se adotassem a mesma estratégia. “A qualidade de serviço prestada pelo farmacêutico não tem comparação com a do atendente. Não se trata de menosprezar o outro profissional, mas o farmacêutico estudou para isso e tem a qualificação, estando preparado para esta prestação de serviço, e a população sente essa diferença e reconhece este farmacêutico e este profissional”.
Osvaldo Jorge explica que sempre manteve o farmacêutico em tempo integral em seus estabelecimentos. “Isso foi, inclusive, um meio da gente manter um alto padrão de atendimento na farmácia, e sempre manter um crescimento nas vendas, bem como no atendimento. Nós sempre mantivemos esse padrão desde o início. Como eu, hoje, não consigo mais estar no balcão para o atendimento, à medida que fui saindo procurei ir contratndo outros profissionais para garantir a prestação de serviço e me substituir no atendimento”.
A Farmaclin funciona diariamente das 7h às 22h, atendendo cerca de 500 pessoas por dia. Dentro do estabelecimento não se vêem bolachas nem sorvete à venda. Segundo o dono, dá muito bem para tocar a farmácia apenas com produtos referentes aos cuidados da saúde e higiene pessoal.
Mas a farmácia tem, dentre outras coisas, um espaço-bebê, que tem toda linha infantil, inclusive a balança apropriada. “A gente percebeu a necessidade de criar esse espaço e otimizamos a estrutura, incluindo a colocação de uma balança infantil, porque percebíamos que muitas pessoas às vezes vinham pesar as crianças e colocavam um pano na balança, colocavam as crianças no chão para pesar. De acordo com a necessidade com a necessidade fomos criando os espaços. É importante criar esse espaço, porque a demanda é grande e há muito mercado”, diz o dono.
Para Jorge, o mercado ainda tem muito espaço para os farmacêuticos, que têm nas mãos uma das profissões do futuro. “É uma profissão que está em pleno desenvolvimento, a população está ficando com uma média de idade mais avançada, a média de idade está crescendo a cada ano, e com isso cresce, cada vez mais, a necessidade de um profissional que dê atenção a essas pessoas. O farmacêutico está enquadrado nessas profissões, e cada vez mais se torna importante a figura do farmacêutico na prestação de serviço a essas pessoas, tendo em vista que a cada dia que passa um maior número de pessoas pede para ser atendido por um farmacêutico, para terem assistência ou mesmo simples informações”.
Sobre a assistência farmacêutica no Brasil, hoje, Osvaldo Jorge avalia que ela vem crescendo, e num futuro próximo o Brasil inteiro terá uma assistência plena. “A ideia é esta”, diz ele.
Na próspera cidade de Sinop também há farmácias que fizeram isso e foram bem sucedidas, conforme foi constatado pelo Conselho Regional de Farmácia de Mato Grosso (CRF-MT).
Com mais gente habilitada para dar orientação farmacêutica, segundo os proprietários as farmácias passaram a ser mais procuradas pela clientela e hoje estão se subressaindo no mercado.
Atendimento personalizado
Já imaginou você entrar numa farmácia e encontrar vários farmacêuticos atrás do balcão? Em Sinop existe farmácia assim, e e um exemplo disso é a Farmácia Flor de Maio, que tem como sócia-proprietária a farmacêutica-bioquímica Luciene Martin Coelho.
“Trabalhei 5 anos no setor de Análises Clínicas e já estou há 14 anos no setor do comércio varejista.Hoje administro duas drogarias, e em cada uma delas tenho 4 farmacêuticos trabalhando”, revela ela, acrescentando que a diferença do atendimento no quesito informação técnica e atenção farmacêutica oferecida pelos profissionais farmacêuticos foi ponto decisivo para que essas contratações se efetivassem.
Segundo Luciene, a decisão de trabalhar somente com farmacêuticos surgiu, primeiramente, da necessidade de se ter o profissional em todo o horário de funcionamento, e depois porque os clientes sempre chegam e procuram pelo farmacêutico para serem atendidos. “A clientela aumenta consideravelmente quando se tem um atendimento mais personalizado. A confiança no medicamento utilizado e na certeza de que está sendo orientado corretamente são muito importante para os clientes. E como os clientes sempre perguntam pelo farmacêutico, não há dúvida de que todos serão bem atendidos”, diz ela.
Luciene afirma que custos aumentaram consideravelmente, mas destaca que o retorno está sendo compensatório. “Procuro visualizar isso como sendo um investimento para o negócio.Como temos muitas universidades, hoje, formando profissionais farmacêuticos, podemos nos privilegiar de termos mais profissionais envolvidos e trabalhando com responsabilidade pela promoção da saúde da população e dessa forma colaborando para que os mesmos sejam mais vistos, mais solicitados e mais valorizados, concluiu a empresária.
O farmacêutico Elvis Donizete Cândido, também de Sinop, foi outro que valorizou a presença do farmacêutico na farmácia. Ele tem duas farmácias, com um total de sete farmacêuticos, sendo cinco em um estabelecimento e dois na outra. “Numa loja somos eu, minha esposa e mais três farmaceuticos, e a minha caixa é estudante de farmácia, assim como uma atendente. A minha drogaria hoje é referência em atendimento em Sinop, justamente por termos gente capacitada e treinada”, diz ele.
Natural de Pitangueiras-SP, Elvis é empresário farmacêutico há 12 anos, desde quando se estabeleceu em Mato Grosso. Segundo ele, é perfeitamente possível e viável, para as farmácias, contratar mais farmacêuticos. “Se você tem um funcionário com qualidade, por que pegaria uma pessoa leiga para colocar no lugar dele? Não há dúvidas de que o profissional oferece vantagens. O farmacêutico ganha mais e então a gente tem que investir mais, só que, em contrapartida, passamos a ganhar mais também, porque a clientela aumenta”, explica.
Em Sinop, segundo Elvis, existem 75 farmácias. Espera-se, portanto, que as demais também adotem a ideia e contratem mais farmacêuticos.
Para Elvis, a maior dificuldade é justamente a mão-de-obra. “Infelizmente existe um despreparo nas universidades quanto às drogarias. As universidades ainda preparam o farmacêutico mais para trabalhar nas indústrias e laboratórios de análises clínicas, e preparam menos para as drogarias. Aí temos que treinar e investir neste treinamento para que eles fiquem capacitados e possam atender melhor à população”.
Grupo de negócio
Os farmacêuticos da região de Sinop também revelaram ao Conselho Regional de Farmácia a estratégia que eles adotaram para negociar com os distribuidores de medicamentos a aquisição mais barata dos produtos.
“Nós montamos um grupo de negócio do ramo farmacêutico, com vários empresários das cidades da região, dentre elas Sinop, Colíder, Lucas, Alta Floresta e Nova Mutum, para brigar com as redes, no caso. Então, buscamos por exemplo o gerente da Panfarma e o gerente da Santa Cruz, fizemos uma reunião desses empresários com esses gerentes, para conseguirmos um melhor desconto e melhores condições de compra, porque hoje não tem mais condições de seguir na atividade se não fizermos isso”, disse Elvis.
Segundo o farmacêutico-proprietário, as micro e pequenas empresas de farmácia fizeram isso para terem mais poder de compra e mais força para negociar com os fornecedores. “Já estamos atuando assim há praticamente um ano e meio, e quanto mais a gente se reúne, mais força a gente ganha perante os distribuidores”, concluiu ele.
Segundo Elvis, há várias coisas a se destacar, além da união dos empresários. “Eu cito não apenas o nosso grupo, mas a união com os farmacêuticos locais em busca de uma maior aproximação com o Conselho e com o Sinfar. Desta forma seremos mais fortes”, concluiu ele.