Farmácias de manipulação resistem à crise, mas sofrem pela falta de gestão
São Paulo – Composto quase em sua totalidade por micro e pequenas empresas, o setor de farmácias de manipulação tem se mostrado resiliente no cenário de crise. Dois terços de seus empresários dizem ter crescido ou mantido seu faturamento estável no ano passado, e o segmento movimentou mais de R$ 5 bilhões no período.
Esse bom desempenho do segmento se deve, segundo especialistas ouvidos pelo DCI, a uma tendência geral do consumo de se buscar cada vez mais um atendimento personalizado. “O setor vem superando as dificuldades porque trabalha justamente com a personalização. A sociedade tem exigido de todas as empresas que atendam às necessidades dentro da individualidade de cada um”, diz o diretor executivo da Associação Nacional de Farmacêuticos Magistrais (Anfarmag), Marco Fiaschetti.
Mesmo assim, essas lojas – que comercializam medicamentos personalizados por prescrição médica – não estão imunes à recessão econômica e têm agido no sentido de melhorar sua performance. “Obviamente, em um momento de crise como o de agora, as farmácias magistrais estão repensando seus custos. Elas também vêm revendo e implantando projetos para ter uma maior produtividade e eficiência”, diz.
Localizada na capital paulista, a farmácia Dermofit, por exemplo, afirma que com a crise os consumidores não deixaram de comprar na loja, mas têm pedido com mais frequência para parcelar os valores e demandado aos prescritores que passem fórmulas com um preço menor. Para responder a essas mudanças a dona da empresa, Patricia Roberto, diz que uma das ações é tentar negociar com os fornecedores. “Tenho pedido para que eles aumentem o prazo de pagamentos. Com a crise, eles estão um pouco mais flexíveis em relação a isso”, afirma.
Compra de insumos
A questão da compra dos insumos é justamente um dos principais problemas do setor magistral, já que a legislação que vigora sobre ele determina que as empresas só podem comprar de alguns distribuidores específicos, o que praticamente impossibilita a troca de fornecedores, e tira o poder de barganha das empresas. “São mais de 300 exigências que uma farmácia tem que seguir para ter uma licença da vigilância sanitária. Uma dessas regras é em relação a adquirir insumos: eles só podem ser adquiridos através de distribuidores legislados pela vigilância sanitária”, explica Fiaschetti, da Anfarmag.
A grande maioria dos insumos utilizados pelas farmácias de manipulação é importada, e isso é outro fator que prejudicou as redes recentemente, já que a cotação do dólar teve um crescimento exponencial durante o ano passado. “Quase 80% de todos os insumos que usamos são dolarizados. Então a variação do dólar afeta muito”, diz Patricia, usando como exemplo um medicamento cujo preço subiu de R$ 80 para R$ 120, em decorrência dessa variação cambial.
Outra dificuldade relativa à legislação que regula o setor está relacionada ao crescimento das empresas e explica, de certa forma, o porque do setor ser dominado por micro e pequenas companhias. “A legislação sanitária impõe tantas exigências que impede que se tenha uma grande rede como no setor de drogarias. Ela obriga que toda farmácia tenha um laboratório, por exemplo, o que dificulta que haja uma escala maior”, diz Fiaschetti.
Apesar de essa questão de fato dificultar, o principal problema para o crescimento do setor parece estar mais ligado ao perfil dos empresários que atuam nele. Como se vê no gráfico ao lado, 84% deles são farmacêuticos. “Para o mercado crescer falta uma gestão mais empresarial”, afirma o diretor da Consulfarma, maior congresso do setor, Neto Montagnini. “A dificuldade do segmento é essa, que o farmacêutico se interessa por assuntos médicos, mas não por assuntos ligados a gestão. Deveria haver mais executivos trabalhando no setor”, afirma.
Mesmo diante desses inibidores algumas redes têm feito um esforço grande para conseguir expandir os negócios. É o caso da Farmatec, localizada em Porto Alegre (RS), que em outubro próximo inaugurará sua segunda unidade. A meta é abrir mais quatro lojas até 2020 e começar a atuar pelo formato de franquias.
Em relação às dificuldades impostas pela lei, a dona da empresa, Christine Rachalle, não enxerga nelas um problema. “Você pode centralizar boa parte das atividades. Se tiver um lugar grande que centralize a produção, você consegue expandir, já que para abrir um laboratório pequeno os custos não são tão altos”, afirma, completando que, em linha com isso, a segunda unidade terá cerca de 500 metros quadrados, e deve comportar mais de 30 funcionários.
Sobre o faturamento no ano passado, a empresária diz ter vendido cerca de R$ 1,7 milhão, um crescimento de 30% em relação ao ano anterior.
Fonte: DCI