Cuidados com o uso de medicamentos para o tratamento de dependentes químicos
O uso de drogas e álcool constitui um grave problema de saúde pública, o qual é responsável por gerar danos tanto à saúde quanto ao convívio social e familiar do indivíduo.
Com o crescimento dessa problemática, o Conselho Regional de Farmácia de Mato Grosso (CRF-MT) debate sobre essa questão e busca intensificar a realização de políticas de educação e conscientização, a fim de encontrar as melhores formas de tratamento para dependentes químicos de acordo com as suas particularidades.
O CRF-MT entrevistou o farmacêutico, Fabricio Caram para explicar sobre o uso de medicamentos para reabilitação desses pacientes. “Para tratar o vício por drogas é necessário que o usuário queira fazer o tratamento. Para isso, os medicamentos devem ser usados apenas com supervisão, 24 horas por dia, 7 dias por semana, para que a pessoa realize o tratamento corretamente e reduza os sintomas de abstinência. Inicialmente, para combater a “fissura”, que é o desejo iminente de usar a droga, podem ser usados medicamentos ansiolíticos e antidepressivos, por exemplo”.
Neste sentido, o farmacêutico é o único profissional que pode fazer a dispensação destes medicamentos. Sua participação em equipes multidisciplinares acrescenta valor aos serviços e contribui para a promoção da saúde da população.
Onde encontrar tratamento gratuito para a dependência química?
O Sistema Único de Saúde (SUS) dispõe dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), são um exemplo de instituições do governo que auxiliam no tratamento dos usuários de drogas. Estes centros estão abertos todos os dias durante todo o dia e contam com a presença de uma equipe composta por médicos clínicos gerais, psiquiatras, psicólogos, enfermeiros e assistentes sociais.
O acompanhamento dos dependentes nesses centros é diário e permite que o indivíduo volte a se sentir capaz ao trabalho e lazer, fortalecendo assim sua saúde mental. Uma das muitas vantagens dos centros de atenção psicossocial é substituir a necessidade de hospitalização do paciente, integrando-o no próprio tratamento ao responsabiliza-lo em dirigir-se diariamente ao CAPS do seu município.
Atualmente os usuários que estão em tratamento não ficam mais internados, hoje eles têm uma vida normal e procura a unidade nos dias que é determinado, dentro de um esquema terapêutico, para que possa cumprir com esse tratamento. Em geral é um tratamento assistencial, medicamentoso, onde eles passam por acompanhamento psicológico e psiquiátrico.
No caso de necessidade ou de vontade de uma internação, a pessoa busca uma instituição privada e que tenha convênio com a Secretaria de Saúde. Antigamente, eles internavam esses usuários para fazer o tratamento, mas quem custeava essa internação era a prefeitura e o governo estadual.
Algumas Prefeituras no interior do Estado ainda trabalham dessa forma, encaminha os pacientes e eles permanecem internados e quem paga a conta é o município e o Estado. São nesses locais onde se encontra o tratamento gratuito para os dependentes químicos.
Como é feito o tratamento do dependente químico?
Atualmente as modalidades são diferentes para cada tipo de tratamento de dependência, como nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), onde eles levam uma vida normal e vão buscar os medicamentos.
Também temos o internamento para tratar o vício por drogas, ele pode acontecer de forma voluntária, quando a própria pessoa quer iniciar o tratamento, ou pode ser involuntário quando são os familiares que fazem um pedido ao médico para internar a pessoa contra a sua vontade, especialmente quando existe um risco elevado contra a sua vida e das pessoas que a rodeiam, no entanto, os internamentos involuntários têm sido cada vez menos recomendados e utilizados.
Hoje temos muitas instituições que fazem o acolhimento destes dependentes químicos de forma voluntária, onde na maioria das vezes são administradas por igrejas católicas ou evangélicas e o tratamento é elaborado de acordo com o vício desta pessoa.
E a partir da assinatura de algumas Leis, foi regulamentada essas internações involuntárias, que são casos um pouco mais extremos, onde o usuário é internado contra a sua vontade em instituições de caráter mais especializado. É uma modalidade de tratamento bem polêmica, mas, para quem tá no meio, já vivenciou todo esse drama de acompanhar as famílias, de ver como é que os dependentes químicos ficam e sabem que são necessárias.
Quanto tempo demora a recuperação?
A duração do tratamento pode variar de acordo com o nível de dependência, o estágio de toxicidade do organismo e o perfil psicológico do paciente. Às vezes, a equipe multidisciplinar pode identificar a presença de transtornos mentais associados ao vício em drogas.
Nessas circunstâncias, o ideal é mesclar terapias e conversar com os familiares a respeito das metodologias mais adequadas. Porém, é uma resposta muito subjetiva, porque vai depender do tempo de recuperação de indivíduo para indivíduo. Realmente a gente percebe que vários fatores podem influenciar essa agilidade, assim por dizer, principalmente o apoio familiar e a própria vontade do dependente químico de sair desta vida e não mais retornar para aquele ambiente onde ele fazia uso dos entorpecentes. Enfim, mas é algo muito subjetivo que infelizmente a gente não tem uma fórmula matemática e não consegue determinar o tempo de recuperação desta pessoa.
No entanto, as modalidades de internação são regulamentadas, pois elas precisam ter um tempo de início e fim. Geralmente as instituições trabalham com períodos de três meses a 12, porém, não é nenhuma garantia de que o dependente químico vá sair de lá apto a ter uma vida social normal e nunca mais vai voltar ao uso de drogas. Isso é mais uma questão de vontade dele mesmo, de contar com as ferramentas necessárias, com o apoio necessário para que isso possa ser feito. Já para os alcoólatras existem outras instituições direcionadas e até grupos de apoio na comunidade, conhecidos como Alcoólicos Anônimos, por exemplo.
Que tipo de medicamento o dependente poderia utilizar?
Os benzodiazepínicos, os ansiolíticos, antidepressivos, em alguns casos, principalmente dos etilistas crônicos nós temos os anticonvulsivantes, que é uma profilaxia que precisa ser feita. Porque o estilista quando ele entra em processo de abstinência é muito comum ele ter convulsões durante o período de tratamento, então se faz necessário o uso desses medicamentos.
Outro fator ao uso dessas substâncias psicoativas Ilícitas, elas causam vários processos de neuro adaptação, de mudanças, de sinapses e isso faz com que os dependentes químicos cada vez mais necessitem da utilização de medicamentos para compensar essa crise de abstinência, essa ‘fissura’ de volta ao uso que hoje realmente a gente identifica que é uma vontade não só psicológica, mas também como uma vontade fisiológica. Uma vez que essas drogas que eles utilizam acabam virando combustível por conta do cérebro. Então, são os medicamentos utilizados, como ansiolíticos, benzodiazepínicos, indutores de sono, porque muitos deles passam a sofrer de crises de insônia, pois houve uma troca da rotina desses dependentes. Ou seja, eles buscam o tratamento medicamentoso para deixar de usar a droga e o álcool.
O uso do medicamento associado ao uso de drogas pode piorar a condição do dependente?
Nesta pergunta, faço uma crítica ao CAPS, pois ele não obriga o paciente a parar de usar droga, ele estimula o paciente a querer parar de usar droga, mas a gente tem vários relatos de pacientes que estão em tratamento nestes Centros fazendo uso de medicação e voltam ao uso de substância psicoativa, e esse uso associado ao uso de medicação faz com que os pacientes desenvolvam comorbidades ainda piores, como surtos, crises de agressividades, entre outros. Portanto, o uso concomitante dessas substâncias com os medicamentos pode causar um mal muito grande, se faz necessário realmente um acompanhamento muito sério e responsável da utilização dessas medicações. Porque se fizer essa associação é bem provável que o paciente passe a sofrer de consequências que ele ainda não tinha experimentado.
A importância de buscar ajuda
Como vimos, as drogas representam inúmeros prejuízos à saúde. Ainda que o grupo mais afetado seja composto por adolescentes e jovens, os danos à saúde podem ser irreversíveis em qualquer idade.
No entanto, dada à complexidade que envolve esse tema, o maior risco do uso de drogas é não buscar ajuda enquanto é tempo. Considerando que os efeitos dos entorpecentes podem variar de acordo com o organismo do indivíduo, os danos são imprevisíveis.
Sob essa ótica, os males associados ao uso de drogas sempre colocam em risco a integridade do usuário e ameaçam as pessoas de seu convívio. Além dos danos à saúde, a ideação suicida tem sido apontada como um dos sintomas mais presentes entre os dependentes químicos.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) afirma que a cada 40 segundos uma pessoa se suicida em algum lugar do mundo. O que torna essa realidade ainda mais cruel é saber que muitos se vão sem ao menos permitir a intervenção da família ou dos amigos.
Dada à influência do efeito das drogas sobre a decisão de atentar contra a própria vida, a ajuda profissional não pode ser negligenciada. Uma conversa amiga pode sensibilizar o dependente químico quanto aos riscos que ele está sujeito.
Nessas circunstâncias, encaminhá-lo ao tratamento especializado é fundamental à superação do vício, além viabilizar medidas para a prevenção do suicídio e possibilitar a reabilitação da saúde.