CRF-MT promoverá debate sobre tratamento de dependentes químicos nas comunidades terapêuticas
Por: Luiz Perlato
Fonte: CRF-MT
Objetivo será estabelecer um trabalho conjunto de fiscalização e acompanhamento dessas comunidades, envolvendo outras entidades relacionadas, para ver como o cidadão está sendo tratado e tentar melhorar os cuidados com a saúde.
O Conselho Regional de Farmácia de Mato Grosso (CRF-MT) deverá promover uma reunião ampliada sobre o tratamento de dependentes químicos nas comunidades terapêuticas.
A ideia surgiu a partir de informações que chegaram ao conhecimento do CRF-MT, de que algumas comunidades terapêuticas podem estar atuando ilegalmente, devido à utilização de medicamentos sem supervisão farmacêutica e sem a mínima estrutura. Essas comunidades, que em tese não deveriam ter estoques de medicamentos, em sua maioria têm medicamentos estocados, e muitas vezes administram drogas antipsicóticas e medicamentos ansiolíticos mesmo para pacientes em estágio avançado de alcoolismo.
Numa recente conversa com o presidente do CRF-MT, Alexandre Henrique Magalhães, durante uma reunião no Conselho, o terapeuta ocupacional e acadêmico de Farmácia Fabrício Caram manifestou preocupação pela maneira como os medicamentos são utilizados nas comunidades de tratamento dos dependentes químicos.
Ele trabalha em terapia com dependentes químicos e revelou que tem presenciado muitos casos de administração de medicamentos, incluindo coqueteis, que constituem situações de risco, devido aos efeitos adversos. Além dos efeitos colaterais, existe o problema da interação medicamentosa destes medicamentos com as substâncias químicas do álcool e outras substâncias.
O estudante se mostrou preocupado sobretudo pela inexistência de uma supervisão de farmacêuticos, já que não há controle sobre esses medicamentos. Ele propôs ao CRF-MT a realização de discussões sobre essa problemática, para ver como o Conselho pode intervir nesse processo.
Na conversa com Fabrício, foram levantados outros problemas que vão além da questão exclusiva do farmacêutico e sua área de atuação. “Identificamos nessa conversa preliminar vários outros fatores que envolvem a dignidade humana, dentre eles as questões dos ambientes insalubres e do acompanhamento psicossocial. Não apenas a lógica ou a visão sobre o medicamento, mas o cuidado quanto à saúde do cidadão. Muitas vezes o paciente está lá involuntariamente, por ordem ou determinação judicial ou por iniciativa da família, que vai lá e interna a pessoa para que ela tente se recuperar da dependência química. A gente sabe que a dependência química está muito atrelada aos índices de violência e criminalidade. Quando está sob o efeito da droga ou do álcool, a pessoa perde o controle, e quando está em período de abstinência ela também fica desesperada para conseguir a droga, e acaba cometendo atos ilícitos para obtê-la. Ficamos, portanto, preocupados com essas questões, de como essas pessoas estão sendo cuidadas, como que esses cidadãos estão sendo tratados”, disse o presidente do CRF-MT.
Alexandre Magalhães confirma que o uso de medicamentos em pacientes alcoolizados requer cuidados, pois podem haver interações perigosas. “Temos que ter um cuidado e todo um controle. É fundamental que tenhamos esse controle dos medicamentos e a orientação farmacêutica na parte clínica e de gestão ou controle desses medicamentos que estão armazenados”, explica ele.
Surgiu, então, a ideia de se promover um debate sobre a questão, inicialmente convidando algumas entidades para uma reunião sobre o assunto. O presidente do CRF-MT assumiu o compromisso de identificar quais são as entidades que podem contribuir nessa discussão e convidá-las para o debate. O objetivo é interagir com essas entidades da saúde da área governamental, para uma maior intervenção.
“Não se trata apenas de garantir espaço, nem de questões punitivas, e sim de uma necessidade de se verificar como o cidadão está sendo tratado e tentar melhorar os cuidados com a saúde”, destaca o presidente do CRF-MT.
A problemática referente a esta questão foi uma das pautas da reunião plenária do Conselho da última segunda-feira (13/4). Alexandre Magalhães ponderou que já existe uma grande discussão sobre essas questões, mas frisou que a ideia é inserir também a farmácia nessas discussões, fazendo um debate ampliado sobre o trabalho das comunidades terapêuticas.
“Pensamos em convidar todos os órgãos e entidades envolvidas, para que se possa fazer um trabalho de equipe, multidisciplinar, para acompanhar o cuidado de saúde do cidadão que está internado nessas comunidades e que está em tratamento de recuperação de dependência química, para que a gente possa contribuir positivamente na reinserção deles na sociedade de modo satisfatório”.