Avanço no tratamento de fraturas em diabéticos
Das muitas complicações associadas ao diabetes, uma particularmente desafia os médicos. Pessoas que sofrem dessa doença metabólica enfrentam mais dificuldade para se recuperar de fraturas ósseas. Agora, pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade de Stanford (EUA) descobriram a razão por trás disso. Em um estudo com ratos, perceberam que uma proteína responsável por estimular a atividade das células-tronco esqueléticas (SSCs) ajuda a restaurar o osso quebrado. A descoberta, além de elucidar um mecanismo até então desconhecido, pode, segundo os autores, levar ao desenvolvimento de uma abordagem terapêutica. O trabalho foi publicado na edição desta semana da revista Science Translational Medicine.
“O diabetes é um problema descontrolado em todo o mundo, e qualquer coisa que melhore a habilidade das pessoas afetadas de sarar das fraturas pode ter um efeito positivo imenso na qualidade de vida delas”, observa Michael Longaker, codiretor do Instituto de Biologia de Células-Tronco e Medicina Regenerativa de Stanford. “Nós descobrimos o motivo pelo qual alguns pacientes com diabetes não se recuperam de fraturas e propusemos uma solução que pode ser aplicada localmente durante a cirurgia de reparação do osso quebrado.”
Segundo o médico, a ideia de investigar a ação de proteínas sobre a recuperação do osso de diabéticos veio de um trabalho anterior no qual Longaker, a equipe que assina a artigo com ele e o patologista Irving Weissman identificaram e descreveram uma população de células nos ossos de ratos que funcionam como SSCs. Essas estruturas são capazes de se diferenciar em todos os componentes do sistema esquelético, incluindo ossos, cartilagens e uma parte da medula óssea chamada estroma. Quando os animais não tinham as proteínas em quantidade suficiente, era muito mais difícil se recuperarem de fraturas. “Isso nos fez pensar. ‘Será que o diabetes afeta a capacidade de recuperação ao modular, de alguma forma, a atividade dessas células?’”, explica Charles Chan, PhD, pesquisador do instituto e coautor do artigo.
Em gel
Para solucionar a questão, a equipe comparou o número de SSCs nos ossos de modelos de rato com diabetes 2 e identificou que eles tinham quantidade bem menor dessas células. A razão da redução foi esclarecida logo em seguida, em outro experimento. Os pesquisadores descobriram que a doença metabólica diminui a produção de uma família de proteínas chamadas hedehog (Hd), que desempenham importante papel em diversos processos, incluindo o desenvolvimento embrionário e a regeneração de tecidos. A fim de confirmar o achado, eles manipularam ratos normais para não produzir essa proteína. O resultado foi que eles também desenvolveram dificuldade de recuperação das fraturas.
Além de desvendar o mecanismo, a equipe de Stanford descobriu uma forma de resolver o problema. Os cientistas criaram um gel que, aplicado no local da fratura, restabelece a habilidade de recuperação. A substância restaura a produção da Hd e, consequentemente, aumenta o número de células-tronco esqueléticas. Embora mais pesquisas sejam necessárias antes de se começar a testar a abordagem em humanos, os cientistas estão confiantes de que alcançarão resultados promissores.
Fonte: Correio Braziliense