Desafios, semelhanças e diferenças da Profissão Farmacêutica entre Brasil, Portugal e demais países de língua portuguesa
Nos próximos dias acontecerão 2 importantes eventos de interesse da classe farmacêutica em Lisboa – Portugal. Um deles será o Simpósio Internacional sobre Cuidados Farmacêuticos em Saúde e Estética, de 30 de maio a 1º de junho, e o outro, a Academia ALCF 2018, de 4 a 8 de junho.São eventos da Academia Lusófona de Ciências Farmacêuticas (ALCF), com quem o Conselho Regional de Farmácia do Estado de Mato Grosso (CRF-MT) celebrou um acordo de apoio institucional em fevereiro deste ano.
Conforme as informações recebidas pelo CRF-MT, a Academia ALCF 2018 será o evento master da instituição e irá reunir alunos de farmácia e profissionais farmacêuticos de todos os países de língua portuguesa (de Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor Leste).
De acordo com a Academia, já foram recebidas várias pré-reservas para assegurar a participação de profissionais brasileiros, através do email: secretarium@alcf.pt. A ALCF informa que serão aceitos trabalhos científicos para encaminhamento ao respectivo Comitê Científico. Os trabalhos científicos aceitos serão apresentados na tarde do último dia do evento, sob a forma de comunicação oral.
Quanto às viagens, a entidade faz saber que dispõe de uma parceria com agência de viagens no Brasil, exclusivamente para participantes brasileiros e a possibilidade de parcelamento total ou parcial associada à participação dos farmacêuticos brasileiros.
Maiores informações: www.alcf.pt/SLALCF & www.alcf.pt/academiaALCF2018, e também na Página de Facebook Oficial da entidade: https://www.facebook.com/AcademiaLusofonaDeCienciasFarmaceuticas/
Confira a entrevista que o farmacêutico fundador da Academia Lusófosa, João Pedro Matos, concedeu ao CRF-MT por telefone e via e-mail:
1- Podemos iniciar a entrevista explicando quem é o senhor, que fundou a Academia Lusófona de Ciências Farmacêuticas?
Resposta – Sou farmacêutico pela Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra, master em Direção de Marketing e Gestão Comercial pelo ESIC – Business & Marketing School, Madrid (Espanha) e pós-graduado em Gestão de Marketing Farmacêutico pelo IDEFE (ISEG) da Universidade de Lisboa. O meu percurso acadêmico-profissional passou por farmácia comunitária, farmácia hospitalar, indústria farmacêutica e, nos últimos 7 anos, trabalhando com Consultoria e Formação nos domínios de Estratégia e Gestão de Marketing Farmacêutico, em Portugal, Espanha, Angola, Brasil e mais recentemente Moçambique.
2- Como nasceu a Academia e quais os objetivos e as metas da entidade?
R- A Academia Lusófona de Ciências Farmacêuticas (ALCF) nasceu do conhecimento da realidade dos países da lusofonia ou países de língua portuguesa, e da constatação de que, além das inequívocas semelhanças do idioma e que nos une a todos, a profissão farmacêutica partilha de princípios e bases comuns, sendo as diferenças entre os países fundamentalmente devidas ao paradigma da profissão e do setor na atualidade, mas que de alguma forma já foi realidade em algum dos países de língua portuguesa mais desenvolvidos, num passado recente. Então, a ALCF vem preencher a lacuna existente entre os países de língua portuguesa quanto à necessidade de constante atualização que tanto se impõe aos profissionais farmacêuticos, aliada ao conhecimento e partilha de experiência únicos que caracterizam o ambiente de multiculturalidade das atividades científicas ALCF, que por sua vez, sempre têm em conta a realidade de cada um dos países participantes.
3- Quais são os pontos em comum que o senhor identifica na profissão farmacêutica no Brasil e em Portugal?
R- Todas as atividades científicas ALCF contam, pelo menos, com um representante dos participantes inscritos de cada país lusófono, no seu Comitê Científico. Além de comprovarmos na prática a importância da Academia quanto ao fato de ser uma entidade que conta com todos os farmacêuticos e que é dirigida a todos os farmacêuticos de forma indiscriminada, todos os elementos são ouvidos e as suas considerações tidas em conta, para efeitos da elaboração da programação científica das nossas atividades, conferindo-lhes a cada uma, um cunho único e inigualável (nem mesmo de uma edição para as seguintes). No caso da atividade master ALCF – Academia ALCF | 2018, temos o grato gosto de receber convidados honoris praesentia dos países dos participantes, incontornáveis profissionais, que nos honram com a sua participação e em alguns casos, também, com o seu contributo científico e partilha de conhecimento. Destacamos a participação do Dr. Sérgio Mena Barreto – Presidente Executivo da Abrafarma e do Professor Doutor Valmir de Santi Vice – Presidente do Conselho Federal de Farmácia e Presidente da AFPLP, por ocasião da Academia ALCF | 2017.
Decorrente da minha estada no Brasil em 2016, durante 43 dias repartidos entre 8 estados e 14 cidades, foram notórias e inequívocas as semelhanças e a clara aproximação do modelo da farmácia brasileira à farmácia portuguesa e da profissão farmacêutica no geral à realidade portuguesa e europeia. Na verdade, esta viagem foi uma importante fonte de inspiração para a criação da ALCF, assim como para validar o que julgávamos de fato ser importante e catalisador do que de necessário para tornar a entidade numa realidade. Destaco a Lei federal 13.021 a par com as resoluções do CFF, que têm dado lugar a novas práticas e competências do farmacêutico em matéria de serviços farmacêuticos e do seu papel como agente de saúde pública. Todas estas razões são mais do que suficientes para garantirmos, em todas as atividades científicas ALCF, o enorme carinho e gosto em receber também os colegas farmacêuticos brasileiros, a par com o compromisso científico de apresentarmos conteúdos letivos adaptados às atuais necessidades e paradigmas do Setor e da profissão vividos atualmente e nos anos que teremos pela frente.
4- Essa integração entre os países da língua portuguesa poderá amenizar as diferenças e os desafios que os farmacêuticos encontram no seu dia a dia?
R- Ameniza sim, mas sobretudo permite também tranquilizar e comprovar que os países e a profissão estão no rumo certo, como é disso caso o Brasil. A capacitação e tentativa de que os mesmos erros não sejam cometidos, tal como a catálise da mudança de forma o mais eficiente e produtiva possível, são algumas das consequências para os participantes e entidades envolvidas com a Academia Lusófona de Ciências Farmacêuticas.
Defensores do status quo, abstenham-se de participar nas nossas atividades (rsrs).
5- Em que estágio se encontra a farmácia clínica em Portugal e nos demais países de língua portuguesa, fora o Brasil?
R- Aqui estamos atrasados em relação à Europa, e somente agora foi regulamentada a vacinação em farmácias…
A farmácia clínica, a prestação de cuidados de saúde pelo farmacêutico ou os serviços farmacêuticos centrados no doente/paciente (temos um módulo na Academia ALCF | 2018 de 2 dias com esta designação e que inclui visitas técnicas a farmácias portuguesas), como queiramos designar/consoante o segmento de atuação do farmacêutico no mercado laboral, é de fato uma realidade em Portugal e na Europa, há muito tempo. Mais do que estar implementada, os seus desafios são hoje outros: constituir-se como um parceiro junto do Ministério da Saúde na redução dos gastos/desperdício de recursos em saúde, ao mesmo tempo que reforça o seu posicionamento igualmente de parceria com a população e doentes, seja pelo seu reconhecido conhecimento científico, seja pela proximidade e credibilidade que o farmacêutico tem junto da população.
6- Nos fale um pouco sobre Farmácia Hospitalar. Por que a Academia decidiu realizar um evento nesta área neste ano?
R- A Semana Lusófona de Farmácia Hospitalar – SLFH | 2018, ocorrida em março, surgiu da necessidade de criação de um evento que reunisse todos os farmacêuticos hospitalares dos 9 países de língua portuguesa, nunca antes realizado. Uma vez mais, o Brasil teve aqui também um importante papel. Foram várias as solicitações do Brasil para a abordagem a temas como a Farmácia Clínica. Como áreas novas e emergentes no Brasil, esta terminologia é usada de forma indiferenciada e independentemente da área de atuação do farmacêutico. Em Portugal, farmácia clínica está diretamente relacionada com as competências do farmacêutico hospitalar (não significando que o que é referido como farmácia clínica no Brasil seja restrito e exclusivamente realizado no hospital por farmacêutico hospitalar, pelo contrário). O desafio foi lançado a importantes profissionais da área em Portugal e representantes de entidades europeias. Na ocasião da Semana Lusófona de Farmácia Hospitalar foram organizadas visitas técnicas aos Serviços Farmacêuticos dos principais hospitais de Lisboa.
Acreditamos que também esta marca, SLFH | 2018, se consolidará depois desta primeira edição, dando lugar às sucessoras edições em 2019 e seguintes.