Reunião do Centro-Oeste confirma necessidade de melhorias no ensino farmacêutico
Trabalhar integrado ajuda a construir um processo de formação profissional mais adequado, tanto na graduação quanto na pós-graduação. Esta, em síntese, foi a mensagem transmitida pelos representantes da Comissão de Ensino do Conselho Federal de Farmácia (Comensino/CFF) e da Comissão Assessora de Educação Farmacêutica (Caef/CFF) , durante o Encontro Regional com os membros das comissões de Ensino dos Conselhos Regionais de Farmácia (CRFs) do Centro-Oeste, ocorrido ontem (19/10) na sede administrativa do CRF-MT.
O presidente da Comensino, William Peres, agradeceu o CRF-MT. Segundo ele este encontro foi muito importante para a evolução dos trabalhos da Comensino e da Caef porque oportunizou a aproximação das comissões de ensino dos Conselhos Regionais do Centro-Oeste, que estão trabalhando e interagindo com os demais CRFs para a melhoria do ensino farmacêutico, visando atender os colegas farmacêuticos e sobretudo a sociedade.
“Quando emitimos um parecer favorável ou desfavorável, nós também estamos, de uma forma ou de outra, dando respaldo a uma situação profissional de um colega farmacêutico. Então, temos que trabalhar mais sobre isso, e por isso eu quero mais uma vez agradecer Mato Grosso, agradecer a toda a Diretoria do CRF-MT, porque essa aproximação era o nosso objetivo, para uma construção em comum”.
Situação nacional
Considerada um ícone da educação farmacêutica no Brasil, a professora Zilamar Costa Fernandes, que é assessora do CFF, declarou que a realidade atual dos cursos de Farmácia não é muito boa. Segundo ela, os cursos efetivamente têm sido muito fragilizados em termos de qualidade, em função da própria política do governo, pelo aumento excessivo de cursos.
“O Conselho Federal de Farmácia tem feito um trabalho junto ao Ministério da Educação para diminuir a abertura de cursos, e junto a essas reuniões com as comissões de ensino a gente tem mostrado aspectos que influenciam para a abertura de cursos ou não e qualidade dos cursos já existentes. Então a gente tem feito um trabalho junto ao Mec mostrando a situação real da educação farmacêutica no Brasil e a não necessidade de abertura de outros cursos em determinados locais do país em que a gente está fazendo uma análise de georreferenciamento”, afirmou a professora.
A estudiosa também fez uma abordagem específica sobre Mato Grosso, um dos Estados que, conforme frisou, têm maior saturação de profissionais farmacêuticos. “Temos uma relação de 4 profissionais para 1 posto de trabalho, e isso é muito diferente dos outros Estados em termos de empregabilidade. Esses profissionais, via de regra, têm situação de migração de outros Estados para Mato Grosso. É um fenômeno típico dessa região, que merece uma observação pelo fato de que aqui realmente não precisa abrir mais curso de farmácia. O que a gente precisa é orientar os profissionais em relação às demandas sociais. Se é um local com absorção muito pequena, com menos postos de trabalho e muitos profissionais, realmente temos que observar esses dados, tendo em vista que isso se reflete na sociedade”, concluiu ela.
O goiano Radif Domingos, que preside a Comissão de Ensino do CRF-GO e também é membro da Caef/CFF, frisou que não se trata de uma discussão contrária à abertura de novos cursos de farmácia, e sim da melhoria da qualidade do ensino. “Não somos contra a abertura de novos cursos, desde que seja comprovada a necessidade, e que qualifiquem profissionais à altura dos anseios populares, pois é isso que a sociedade realmente necessita. O diagnóstico é muito importante e cabe ao médico. Ao farmacêutico cabe a prescrição desde que ele seja um profissional competente. Nos países mais evoluídos o médico não prescreve, ele apenas examina, pede todos os exames laboratoriais e radiológicos, chega a um diagnóstico e manda o paciente para o farmacêutico. Será que algum dia nós vamos chegar a este ponto no Brasil? Com a qualidade de ensino que temos e a abertura indiscriminada de cursos, em que o capital se sobrepõe à ciência, jamais conseguiremos atingir esses níveis”.
Metodologia
Para a presidente da Comissão de Educação Farmacêutica do CRF-MT, Danielle Ayr, os professores precisam inovar a metodologia de ensino, levando em consideração que o perfil do aluno de hoje não é mais o mesmo de antigamente. “Hoje em dia os estudantes têm um perfil bastante diferenciado. Antigamente os alunos tinham essa perspectiva de estudar e ler livros. Hoje em dia, porém, os acadêmicos têm um perfil muito mais voltado para a mídia, e eles não conseguem ficar muito presos a métodos de estudo voltados apenas para a leitura. Porque eles fazem uma leitura muito mais rápida. Então, hoje em dia, se ele têm acesso a um conteúdo, eles vão fazer pesquisas na internet pelo próprio celular, e vão trocar informações com os colegas, para tentar descobrir o que existe de novo. Isso está fazendo com que o perfil do aluno esteja mudado. Hoje o aluno não se prende mais só ao professor falando, ele precisa que o professor esteja ativamente interagindo com ele, inclusive usando as midias, para poder facilitar o ensino”.
Este novo cenário da educação, conforme Ayr, constitui um desafio para os professores, que devem mudar a postura de ensino. “Se o professor continuar naquela educação onde só ele fala e não interage, ele não vai conseguir caminhar, ele precisa de uma maior interação, fazendo com que o aluno se torne o principal ator, o ativo da sua aula, senão ele não vai conseguir fazer e ensinar da forma correta”, alertou a educadora.
Em sua palestra durante o Encontro em Cuiabá, a professora Eula Maria de Melo Costa apresentou as ações da Comissão Assessora de Educação Farmacêutica do Conselho Federal de Farmácia frente ao convênio que foi firmado entre o Conselho e o Ministério da Educação, para que essa Comissão possa emitir parecer tanto para a abertura como para o reconhecimento e renovação de reconhecimento de cursos de farmácia.
A parte que ela abordou foi em relação aos pareceres que já foram emitidos pela Caef e o quantitativo de pareceres. “Essa Comissão vem trabalhando desde 2009, e a pertinência desses pareceres vem sendo bastante considerada peloInstituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) durante o processo de abertura de cursos de farmácia. Em muitos momentos existe uma sintonia entre o parecer que é emitido ou exarado pelos avaliadores in loco dos cursos de farmácia do Inep com o parecer emitido pela Caef. Em outros momentos, mesmo que os avaliadores in loco já tenham dado um parecer satisfatório, se o resultado do parecer da análise da Caef for insatisfatório, isso tem gerado por parte do Mec despachos saneadores junto aos cursos que estão sendo avaliados. Ou seja, são feitas algumas recomendações, e só após o cumprimento dessas exigências é que o Mec autoriza a abertura dos cursos”, explicou.
A análise que a Caef faz, segundo a professora Eula, é composta de um olhar mais profissional. “Já a análise feita pelo Mec tem uma característica mais acadêmica, e nós entendemos que para a melhoria dos cursos é importante a somatória desse olhar profissional com o olhar acadêmico”, complementou ela.
Sempre trabalhando em conjunto com a Comissão Assessora de Educação Farmacêutica, a Comissão de Ensino do Conselho Federal de Farmácia (Comensino/CFF) tem mais dois encontros articulados ainda para este ano, para interagir com as comissões de ensino dos Conselhos Regionais de Farmácia. Em novembro, os estados do Norte discutem questões relacionadas à educação, em Belém. E, em dezembro, as comissões do Sudeste e Sul estarão em São Paulo.