Hanseníase: o farmacêutico na linha de frente
A hanseníase, conhecida historicamente como lepra, ainda desafia a saúde pública brasileira, mas é completamente curável. Com mais de 20 mil novos casos registrados em 2023, o Brasil ocupa o segundo lugar no mundo em número de diagnósticos, atrás apenas da Índia. Em Mato Grosso, um dos estados com as maiores taxas de detecção, mais de 1.000 casos foram notificados no mesmo ano. Diante desse cenário, a campanha Janeiro Roxo é realizada anualmente para conscientizar a população sobre a hanseníase.
Como profissionais de saúde acessíveis à população, os farmacêuticos são agentes chave na conscientização sobre os sintomas, na orientação ao tratamento e no combate ao estigma associado à doença.
A hanseníase, causada pela bactéria Mycobacterium leprae, compromete principalmente a pele e os nervos periféricos, podendo gerar sequelas permanentes se não tratada precocemente. Sintomas como manchas na pele com perda de sensibilidade, dormência e fraqueza muscular são sinais de alerta que precisam ser identificados rapidamente. Nesse contexto, o farmacêutico tem um papel determinante, atuando na linha de frente do cuidado à saúde, orientando pacientes sobre a importância do diagnóstico precoce e garantindo o acesso aos medicamentos fornecidos gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Os farmacêuticos são fundamentais para garantir a adesão ao tratamento. Além de dispensar os medicamentos, eles orientam os pacientes sobre o uso correto da poliquimioterapia, essencial para eliminar a bactéria e prevenir resistência. O monitoramento de possíveis efeitos adversos também é uma etapa indispensável no acompanhamento, assegurando que os pacientes possam concluir o tratamento com segurança e eficiência. Além disso, os farmacêuticos promovem a qualidade de vida, abordando aspectos relacionados à autoimagem, inserção social e apoio psicossocial, fatores muitas vezes impactados pela doença e seu estigma.
“A hanseníase é curável, mas exige tratamento contínuo. Estamos aqui para apoiar o paciente durante todo o processo, ajudando a prevenir complicações e interromper a transmissão da doença”, explica Fernando Oliveira, farmacêutico e responsável técnico geral de medicamentos do Complexo CERMAC-MT, que envolve as áreas de IST/HIV-AIDS, dermatologia e tuberculose resistente. Ele também é responsável pelo ambulatório de tuberculoses especiais, abrangendo casos de tuberculose drogarresistente (TBDR), micobacteriose não tuberculose-fungos pulmonares (MNTB) e extensivamente resistente (XDR). “Nosso papel vai além do fornecimento de medicamentos, promovemos uma abordagem integral que visa a saúde e o bem-estar do paciente. Além disso, também promovemos a educação em saúde, desmistificando mitos e incentivando a busca por atendimento médico ao primeiro sinal de suspeita”, complementa Fernando.
A campanha Janeiro Roxo também reforça a luta contra o preconceito. Historicamente associada à exclusão social, a hanseníase ainda carrega um estigma que pode atrasar o diagnóstico e o tratamento. “Precisamos transformar a percepção da sociedade. A hanseníase é uma doença tratável e não deve ser motivo de discriminação. Nosso trabalho é informar, acolher e garantir que os pacientes recebam o cuidado que merecem”, destaca Fernando.
Com a participação ativa dos farmacêuticos, a campanha busca não apenas erradicar a hanseníase, mas também promover a saúde integral e a qualidade de vida. A população pode se engajar buscando informações nas unidades de saúde, participando de ações educativas e apoiando pessoas em tratamento. O compromisso com a prevenção e o enfrentamento do estigma é um passo essencial para um futuro mais saudável e inclusivo para todos.