Farmacêutica do Centro-Oeste é premiada por pesquisa sobre novos fármacos para o tratamento da leishmaniose
Por: Serena Veloso | Foto: Carlos Siqueira
Fonte: Jornal da UFG ? Publicação da Assessoria de Comunicação da Universidade Federal
Professora da Faculdade de Farmácia recebe prêmio nacional para mulheres cientistas
Carolina Horta Andrade foi reconhecida por sua pesquisa de novos fármacos para o tratamento da leishmaniose
Texto: Serena Veloso | Foto: Carlos Siqueira –
Pesquisadora utilizou programas de computador para simular interação de compostos em organismos infectados pela Leishmania, evitando testes excessivos em animais
A leishmaniose é um conjunto de doenças causadas por protozoários do gênero Leishmania e transmitidas ao homem por meio da picada do mosquito-palha. É uma das seis doenças infecciosas de maior impacto no mundo. A cada ano, são reportados dois milhões de novos casos mundialmente, incluindo a população brasileira, que é afetada em todos os estados. Apesar de existir tratamento, os poucos medicamentos disponíveis no mercado não são totalmente eficazes para alguns tipos da doença, além do alto custo e dos efeitos colaterais.
Alguns pesquisadores têm se dedicado a encontrar novas alternativas farmacológicas para combater a leishmaniose. É o caso da pesquisa da professora da Faculdade de Farmácia (FF) da UFG e coordenadora do Laboratório de Planejamento de Fármacos e Modelagem Molecular (LabMol), Carolina Horta Andrade, que chamou a atenção da comunidade científica nacional e tornou-se uma das sete vencedoras do Prêmio para Mulheres na Ciência 2014. Há aproximadamente quatro anos, a professora coordena um projeto na área de Química Medicinal com o intuito de descobrir novos compostos para a produção de medicamentos eficazes e de baixo custo, para o tratamento da leishmaniose visceral, forma mais perigosa da doença.
A premiação, oferecida pela empresa L’Oréal em parceria com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e com a Academia Brasileira de Ciências (ABC), incentiva a participação de mulheres brasileiras no cenário científico nacional. Carolina Horta Andrade concorreu com outras 312 cientistas e foi a primeira pesquisadora de uma instituição goiana a ser contemplada com a iniciativa, recebendo o valor de US$ 20 mil dólares para auxílio à pesquisa. A cerimônia de premiação ocorrerá no dia 21 de outubro, no Rio de Janeiro-RJ.
Novos compostos no combate à doença
Até então, a pesquisa identificou, durante simulações em programas de computador e experimentos in vitro, algumas moléculas promissoras para combater o parasita da doença. “Três novos compostos foram mais potentes do que o medicamento padrão utilizado para o tratamento da leishmaniose”, ressaltou a pesquisadora. Para buscar compostos potencialmente ativos, primeiramente, foi realizada a quimiogenômica, que consiste na extração das informações químicas dos genes do parasita. Por esse processo, identificaram-se duas proteínas essenciais à sua sobrevivência, sobre as quais novos medicamentos poderão atuar. Em seguida, foram utilizados softwarespara simular a interação de milhares de moléculas com proteínas-alvo, sendo selecionadas aquelas que mostraram maior resposta contra o parasita.
Atualmente, a pesquisa está em fase de melhoria de algumas das propriedades das moléculas para que os experimentos resultem num medicamento. O estudo irá averiguar ainda a ação dos compostos por meio de testes em animais.“Este prêmio é um grande estímulo para continuarmos a nossa pesquisa, devido à visibilidade que tem proporcionado não só no meio acadêmico, mas também nas indústrias, o que permitirá futuras parcerias”, enfatizou Carolina Horta Andrade.
O projeto tem o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado (Fapeg) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), com a colaboração de pesquisadores do Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública (IPTSP) e do Instituto de Química (IQ) da UFG, além do Instituto Adolfo Lutz, de São Paulo.
Leishmaniose em números
De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde, doze milhões de pessoas sofrem com a doença em todo o mundo. “A leishmaniose é endêmica em aproximadamente noventa países, a maioria deles subdesenvolvidos ou em desenvolvimento, e em regiões de clima tropical”, explicou a professora. A doença é endêmica também no Brasil, sendo o Centro-Oeste a segunda região com maior número de casos de leishmaniose tegumentar americana, conforme levantamento do Ministério da Saúde.
Segundo a pesquisadora, devido à falta de investimento das indústrias farmacêuticas, os medicamentos utilizados no tratamento da doença são antigos, desenvolvidos há mais de 50 anos, e causam efeitos colaterais nos pacientes. “A indústria farmacêutica praticamente não tem interesse em buscar novos medicamentos para combater a doença porque ela atinge, principalmente, populações de baixa renda”, motivo pelo qual a doença é considerada negligenciada, esclareceu a professora.
Carolina ressaltou ainda que o processo de desenvolvimento de um medicamento até a inserção dele no mercado, além de envolver mais de uma década de pesquisa, demanda altos custos de investimento da indústria farmacêutica, os quais podem variar de US$ 800 milhões a US$ 1 bilhão de dólares.
Mulheres estão cada vez mais presentes na ciência
Um levantamento feito pelo Programa L’Oréal-ABC-Unesco para Mulheres na Ciência revelou que, em uma década, a participação feminina em pesquisas científicas aumentou em 12%. Ainda assim, o espaço destinado às mulheres na ciência continua restrito: somente 29% da comunidade científica mundial é composta por mulheres, apontou a pesquisa realizada em seis países: França, Estados Unidos, Alemanha, Japão, Reino Unido e Espanha.
No Brasil, esse quadro tem se revertido com o aumento do acesso das mulheres às universidades, sendo elas dos cursos de graduação, segundo dados do Ministério da Educação (MEC), e, em boa parte, dos de pós-graduação. Só na UFG, 2.405 alunas estão matriculadas atualmente nos cursos de pós-graduação stricto sensu, o que corresponde a mais da metade dos ingressos, que atualmente somam 4.652.
No entanto, quando se trata de incentivo à pesquisa nas universidades, a realidade é bem diferente. Grande parte dos contemplados com bolsas de produtividade em pesquisa e tecnologia do CNPq em Goiás é do sexo masculino. Na UFG, dos 145 bolsistas que coordenam pesquisas, 51 são mulheres, muitas delas ainda iniciantes como pesquisadoras. A pró-reitora de Inovação e Pesquisa (PRPI) da UFG, Maria Clorinda Soares Fioravanti, acredita que a maternidade é um dos principais fatores a interferir na carreira das pesquisadoras, que chegam ao auge do nível de produtividade após os 45 anos.
Dentre o pequeno número de pesquisadoras da UFG com PQ 1 – conceito do CNPq para nível máximo de produtividade –, a professora Mariana Pires de Campos Telles, do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFG, foi destaque no CNPq como uma das 22 jovens pesquisadoras do Brasil reconhecidas, com menos de 40 anos de idade.
Fonte: Jornal da UFG – Publicação da Assessoria de Comunicação da Universidade Federal de Goiás
ANO VII – Nº 68 – Outubro – 2014