Para comemorar o ‘Dia do Hospital’, farmacêutico fala sobre atuação hospitalar
Nesta quinta-feira (02.07), é comemorado o Dia do Hospital! A data é uma homenagem a todos os profissionais da saúde que ajudam a salvar vidas.
Essa data foi escolhida por ser a data de inauguração da Santa Casa de Misericórdia de Santos, em São Paulo, 02 de julho de 1945, pelo presidente Getúlio Vargas.
Para falar um pouco sobre o farmacêutico no âmbito hospitalar, o Conselho Regional de Farmácia de Mato Grosso (CRF-MT), entrevistou o farmacêutico, Miguel Palacio Pelaez Carvalho Neto.
Miguel é formado em Farmácia pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), pós-graduando em Farmácia Clínica e Prescrição Farmacêutica pelo Instituto de Ciência, Tecnologia e Qualidade Farmacêutica ICTQ. Na Graduação atuou na área de Quimioinformática, Docking Molecular, com ênfase na descoberta de novos fármacos. Atuando atualmente na área de Farmácia Clínica, gerenciamento de estoque, participação de certificações de Acreditação Hospitalar e Serviços de Saúde Metodologias ONA e ACSA, acompanhamento de pacientes cirúrgicos considerados de alto risco para TEV.
Qual a importância da atuação do farmacêutico nos hospitais?
O farmacêutico tem várias atuações cruciais em uma farmácia hospitalar, ele é responsável pela logística hospitalar desde seleção, programação, aquisição, armazenamento, distribuição, dispensação dos medicamentos e insumos hospitalares. Além destas atuações vários hospitais contam também com serviços clínicos ofertados pela equipe do núcleo de assistência farmacêutica (NAF), buscando aprimorar cada vez mais a promoção, proteção, recuperação, prevenção de doenças e quaisquer outros problemas relacionados à saúde.
Com isso o farmacêutico centraliza seu cuidado ao paciente, família e comunidade, promovendo o uso racional de medicamentos, buscando resultados para melhorar a qualidade de vida.
Porque escolher a área farmacêutica hospitalar?
Particularmente é uma das áreas onde se acompanha toda evolução clínica do paciente, podendo contribuir, e participar na realização do tratamento e alcançando os objetivos terapêuticos definidos pela equipe multidisciplinar.
Para os profissionais que pretendem seguir a carreira na área hospitalar, diversas pesquisas e reportagens indicam que o farmacêutico especializado possui uma valorização salarial diferenciada em cidades ou capitais com centros de referência em saúde, podendo atuar em hospitais de pequeno a porte especial, tipo de atendimento ou serviço ofertado (Hospital geral ou especializado), e o regime jurídico (Hospital público, privado, filantrópico ou beneficente).
Como o profissional pode fazer a diferença no atendimento aos pacientes?
O profissional farmacêutico tem como responsabilidade avaliar, identificar e intervir nas interações medicamentosas indesejadas ou clinicamente significantes, orientando o paciente sobre o uso racional dos medicamentos desde o horário ideal para administração, se este possui ou não interação com alimentos, as vias de administração, e as populações especiais (idosos, crianças, gestantes, portadores de doenças crônicas). Neste contexto e cenário atual podemos citar a importância da instrução do uso de dispositivos inalatórios, onde podemos observar que o paciente não tem a informação, conhecimento e orientação de como utilizá-los corretamente, do uso de facilitadores (espaçadores), e necessidade de higienização bucal após inalação, onde se pode observar a não melhora clínica pela não adesão ao tratamento proposto, devido a uma falha terapêutica ou mesmo o desencadeamento de eventos adversos locais associados a estes medicamentos.
Qual perfil o profissional precisa ter para atuar na farmácia hospitalar?
Capacidade de coordenar, liderar para conduzir e orientar os colaboradores e profissionais da saúde sobre a importância dos serviços farmacêuticos prestados; O profissional necessita de conhecimento técnico, científico, buscando a saúde baseada em evidências para contribuir na assistência multiprofissional, desenvolvimento de fluxos, POP’s, serviços especializados de farmácia clínica, participando e colaborando com comissões e/ou protocolos hospitalares.
O farmacêutico trabalha com a equipe multidisciplinar dentro do hospital?
Na equipe multidisciplinar esse profissional tem a possibilidade de desenvolver várias atividades, podemos citar os farmacêuticos hospitalares que tem como responsabilidade o ciclo da cadeia medicamentosa planejando a aquisição, armazenamento, dispensação e descarte correto, assegurando o propósito pelo qual o paciente confia e deposita sua confiança na instituição e profissionais da instituição.
Na farmacoeconomia tem contribuído com a inclusão, substituição e/ou exclusão de tecnologia, melhorando a eficiência dos gastos necessários no sistema de saúde pública ou privado, satisfazendo os provedores e usuários.
O farmacêutico clínico na equipe multiprofissional possui múltiplas atividades, realiza admissão farmacêutica através da reconciliação medicamentosa, garantindo que o paciente continue utilizando seus medicamentos de uso contínuo, temporário ou mesmo pós-alta, colhendo dados sobre possíveis reações alérgicas a medicamentos, excipientes, e alimentos, a admissão farmacêutica é um dos deveres mais importantes, sabemos que os pacientes por motivos emocionais ou mesmo senilidade podem esquecer-se de relatar essas informações cruciais para qualquer profissional da saúde, além da admissão o profissional farmacêutico pode avaliar tecnicamente e clinicamente as prescrições médicas, garantindo o uso racional, evitando efeitos adversos, interações medicamentosas; orientando a equipe assistencial de enfermagem quanto à maneira correta acondicionar reconstituir, diluir e administrar os medicamentos.
Como é a relação do farmacêutico com outros profissionais de saúde?
Com a equipe médica exerce a função de acompanhamento farmacoterapêutico analisando a indicação, posologia, tempo de tratamento ou profilaxia, sugerindo ajustes de doses conforme a função renal e/ou hepática, alertar sobre possíveis interações medicamentosas, alterações laboratoriais em decorrência do uso de algum medicamento, legibilidade ou não aos protocolos, assistenciais da instituição, quando sim avaliar a adesão, acompanhamento e desfechos clínicos, assegurar que a padronização de medicamentos e insumos possam atender os serviços ofertados.Equipe assistencial de enfermagem, ele pode disponibilizar o guia farmacoterapêutico com as informações dos medicamentos padronizados, contendo as vias disponíveis para administração, tempo mínimo e máximo de infusão, os diluentes compatíveis, as incompatibilidades em via Y, seringa, bolsa, e físico-químicas, possíveis efeitos adversos, acompanhamento de farmacovigilância através da prescrição de medicamentos gatilhos (Difenidramina, Fitomenadiona, Protamina, AIE, antídotos), alertando verbalmente, visualmente sobre os que são classificados como de alta vigilância prevenindo, reduzindo ou eliminado danos significativos á saúde do paciente, por busca ativas possíveis tecnovigilâncias, usando essas informações para avaliar possíveis desvios de qualidades insumo hospitalares.Nutrição clínica, vários medicamentos têm sua biodisponibilidade afetada por alimentos ou produtos alimentícios, como exemplos temos: os alimentos ricos em vitamina K (fitomenadiona) podem interferir no efeito anticoagulante da Varfarina, os que possuem alto teor em proteína podem comprometer a absorção de Levodopa, e ricos em ácido málico podem aumentar a biodisponibilidade de cloreto de Magnésio, sendo assim o farmacêutico e a nutricionista pode evitar a diminuição ou tentar aumentar a biodisponibilidade de alguns medicamentos, assim como a influência de alguns medicamentos na absorção de vitaminas e minerais, contribuindo com a evolução clínica proposta pela equipe multidisciplinar.Fisioterapeuta, vários medicamentos podem rebaixar o nível da consciência, diminuir o desempenho funcional, impactando diretamente na reabilitação, o fisioterapeuta pode alertar esses sinais para o farmacêutico e a equipe multidisciplinar para investigar o possível causador, diminuindo assim o tempo de internação, risco de brocoaspiração, risco de TEV e/ ou TEP, e perca da funcionalidade deste paciente.Psicologia, um exemplo clássico da contribuição com este profissional é o acompanhamento do paciente no período de latência dos antidepressivos, o farmacêutico poderá informar os efeitos colaterais desta classe medicamentosa para o acompanhamento e as funções mentais do paciente na adesão do tratamento. Outra contribuição é o acompanhamento dos pacientes inclusos na rede de cuidados continuados, buscando centrar a qualidade de vida através do controle da dor, melhora dos problemas mentais, físicos, emocionais e sociais tanto para o paciente quanto para sua família e amigos próximos.
Como tem sido a atuação do farmacêutico hospitalar no controle da Pandemia?
Frente a esta pandemia, o nosso papel vem sendo cada vez mais valorizado e reconhecido, o uso off-label dos medicamentos é a maior preocupação, devido à automedicação dos pacientes e profissionais da saúde, o farmacêutico por obrigação terá que atualizar-se diariamente, através de novos protocolos, participação na criação, analisar as prévias ou estudos publicados, orientar sobre as possíveis interações medicamentosas ou alimentar, os efeitos indesejáveis, ajustes conforme função renal e hepática, dose máxima conhecida, riscos nem seu uso e possíveis impactos nas populações especiais, e os cuidados pós-alta.Para exemplificar podemos citar o medicamento que foi e ainda é muito comentando nas mídias e redes sociais, a Hidroxicloroquina, que quando administrada com anticonvulsivantes, diminui o limiar convulsivo, ou com medicamentos que aumentam o intervalo de QT, através de sinergismo farmacológico prolongam ainda mais esse intervalo, podendo causar síncope, PCR; a administração com leite tem a biodisponibilidade aumentada, e quando acidificado a urina tem sua excreção aumentada. Então o farmacêutico deverá acompanhar e relatar possíveis farmacovigilâncias, que frente a esse cenário atual tende a aumentar os riscos ao paciente, orientar sobre o uso racional, os tratamentos farmacológicos disponíveis, os manejos não farmacológicos, podendo contribuir e diminuir os prováveis efeitos adversos, e informar aos órgãos competentes sobre essas informações.
Outro ponto preocupante que está sendo noticiado e vivenciado é o abastecimento dos insumos farmacêuticos, material médico e EPI’s, essa dificuldade esta diretamente ligada ao cenário de uma pandemia e não uma epidemia, temos um aumento do consumo, as indústrias não conseguem atender a demanda solicitada, impossibilidade de importação da matéria-prima, rompendo a cadeia produtiva. Os farmacêuticos hospitalares e de farmácia comunitária tentam buscar alternativas para esse desabastecimento, através de novos fornecedores, outras opções farmacológicas e a desprecrição, sempre considerando os benefícios e possíveis danos ao paciente.