Dia do Índio: farmacêutica relata desafio da prevenção da covid-19 em áreas indígenas
O aumento acelerado de casos de índios infectados pelo novo coronavírus no Brasil tem preocupado especialistas na área da saúde. Nesta semana, o Ministério da Saúde (MS) confirmou a terceira morte de indígena pela covid-19 no País. O trabalho dos farmacêuticos que atuam na saúde indígena merece destaque todos os dias mas, neste 19 de abril em especial, data em que se comemora o Dia do Índio, essa atuação ganha mais importância pelo cenário da pandemia. A farmacêutica Camila Aguiar Vizú atua junto à comunidade Guarani Kaiowá, no polo Amambai, da Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI), no Mato Grosso do Sul (MS), e relata o desafio da prevenção da covid-19 em áreas indígenas.
Vale lembrar que, há três anos, o Conselho Federal de Farmácia (CFF) aprovou a Resolução CFF nº 649/2017, que trata das atribuições do farmacêutico na atenção da saúde indígena. A ideia desta norma é incentivar a atuação do farmacêutico na área e orientar esse trabalho. Camila Aguiar, que já se dedica à saúde indígena há 9 anos, explica que na sua região, com a proximidade cada vez maior entre cidades e aldeias, muitos índios têm costume de ir à cidade para comprar alimentos. Então, o trabalho de conscientização também tem sido feito junto aos comerciantes.
“A gente está tentando… fazendo mutirão e parando os comerciantes que entram na aldeia e explicando para eles não andarem por lá. Já sentimos os frutos desse trabalho, com menos indígenas andando na cidade, e eles estão tomando cuidado, alguns inclusive de máscara. Tanto que a gente percebeu até redução dos pacientes que procuram a unidade básica. Eles não estão procurando tanto, só vão quando é caso de emergência”, relata a farmacêutica destacando que, pela proximidade com a cidade, muitos índios acabaram adotando hábitos urbanos como o consumo de comidas industrializadas, o que pode explicar a ocorrência de hipertensão e diabetes na aldeia.
Juntamente a uma equipe multidisciplinar de saúde, Camila realiza encontros mensais para orientar a comunidade sobre hábitos saudáveis e uso correto de medicamentos. “Até hoje, os indígenas levam muito em conta a cultura deles, então alguns ainda usam muitos remédios caseiros, e é bem difícil a conscientização de que ele necessita tomar um medicamento. Se ele não se vê que está doente às vezes a gente não consegue conscientizar. E no caso de um hipertenso e do diabético, só quando eles sentem algum sintoma é que conseguimos fazê-los tomar o medicamento. Ele quer tomar o remédio caseiro, tudo bem, mas precisa tomar o outro medicamento também”.
Casos de tuberculose são comuns entre essa população. Por isso, a farmacêutica também é responsável pela análise dos exames para diagnóstico de tuberculose num laboratório que funciona no local. A comunidade chegou a ser referência no controle da doença. Ela conta que, com a pandemia do coronavírus, está mais complicado realizar as reuniões na aldeia. Para ela, embora seja gratificante, esse trabalho de conscientização é um grande desafio e envolve, antes de tudo, o respeito à cultura tradicional deles.
O indígena Rubens Aquino, da Aldeia Amambai, chefia o polo da SESAI. Ele acrescenta que esse trabalho de conscientização em relação ao coronavírus é difícil porque a aldeia depende da cidade. Outros problemas enfrentados são a frequente interrupção do abastecimento de água e a falta de pessoal. “A demanda é grande e pouca pessoa trabalhando. Em termos da farmácia, não é fácil. A nossa farmacêutica Camila tem trabalhado constantemente, ela está trabalhando para atender as sete aldeias. O trabalho dela é muito importante para nós e para os médicos que trabalham na aldeia e a gente sempre depende dela”.
Como estratégia para evitar confusão de diagnóstico da covid-19 e em função da vulnerabilidade dos povos indígenas, o Ministério da Saúde decidiu antecipar o início da vacinação contra Influenza nessas comunidades do dia 9 de maio para o dia 16 de abril.
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