Excesso de DNA no cérebro tem ligação com Mal de Alzheimer
Fonte: CFF / O Globo
Estudo de gene “volumoso” pode contribuir para terapia de outras doenças
O excesso de DNA no cérebro está associado ao Mal de Alzheimer, segundo um novo estudo publicado este mês na revista “eLife”. As conclusões do levantamento podem auxiliar na busca por terapias para outras doenças neurodegenerativas, incluindo o Mal de Parkinson.
Até agora, os cientistas haviam identificado mutações capazes de explicar a origem da doença em apenas 5% dos casos. Este é o percentual de ocorrências do conhecido “Alzheimer familiar”, quando uma forma do mal afeta mais de uma pessoa da mesma família.
A carga extra de DNA é a presença de cópias excessivas do gene APP, cuja quebra é responsável por produzir uma molécula prejudicial à atividade cerebral dos pacientes.
Ainda não se sabia, porém, se o APP desempenhava algum papel nos outros 95% dos casos de Alzheimer. No estudo, a equipe comprovou que o DNA dos portadores era até 10% mais “volumoso”.
— Mostramos agora que, na maioria desses casos, em que não existe herança familiar da doença, também é possível observar cópias extras deste gene — conta Stevens Rehen, coautor do estudo e pesquisador da UFRJ e do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino.
Especula-se que, com a idade, os neurônios buscam em vão evitar seu próprio envelhecimento e, para isso, eles tentam se multiplicar. Não conseguem evitar a própria morte, mas, durante a tentativa, acabam sintetizando mais DNA, incluindo aí as famigeradas cópias extras do APP.
IDENTIDADE CEREBRAL PRÓPRIA
A equipe do neurocientista desenvolve o trabalho desde 2001, quando levantou a hipótese de que o cérebro é semelhante a um mosaico.
— Nem todas as células do cérebro têm 46 cromossomos, como aprendemos na escola — revela o pesquisador. — O estudo é uma quebra de paradigma. Cada cérebro tem alterações próprias, e forma um mosaico com neurônios distintos entre si do ponto de vista genético. Ele conta com uma identidade própria e mutável, forjada ao longo da vida.
De acordo com o pesquisador, há alterações intrínsecas que podem surgir e deixar o cérebro mais suscetível a algumas doenças. Uma das marcas do novo levantamento é alertar a comunidade científica sobre esta diversidade de neurônios, que muitas vezes surge ainda durante a formação do órgão:
— O mosaico cerebral é como uma impressão digital. Ele é único e individual durante toda a vida, da formação ao seu envelhecimento.
Os pesquisadores analisaram o DNA de neurônios do cérebro de 32 pacientes com Alzheimer, comparado depois com o material genético de 40 pessoas que não são portadoras da doença.
A composição genética única das células do órgão poderá ajudar a explicar outras doenças complexas além do Alzheimer, como Parkinson e esquizofrenia. A próxima etapa da pesquisa é analisar se existe um excesso de genes no cérebro dos pacientes com estes transtornos.