Morte de Fernanda Young por asma reforça alerta sobre cuidado com a doença
Segundo dados do Ministério da Saúde, todos os anos, cerca de 300 mil pessoas são internadas por causa da asma, sendo essa a terceira ou quarta causa de hospitalização pelo SUS. No mesmo período, pelo menos duas mil pessoas morrem por conta da doença no país. A atriz e escritora Fernanda Young entrou para as recentes estatísticas de óbitos devido à doença. Fernanda tinha 49 anos e sofria de asma desde a infância. Passou mal no sítio da família, em Gonçalves, Minas Gerais. O quadro evoluiu para uma parada cardíaca e ela não resistiu. O caso reacendeu a discussão sobre a necessidade de maior cuidado e controle da enfermidade.
De acordo com a farmacêutica Josélia Frade, assessora da presidência do Conselho Federal de Farmácia (CFF), clima seco ou úmido demais, mudança de temperatura, contato com agentes desencadeador de alergia, como fumaça ou mofo, ou problemas respiratórios, como gripe e resfriado, podem desencadear os sintomas. Os mais clássicos são chiados e aperto no peito e tosse. “Geralmente, quando a asma do paciente tem relação com o processo alérgico e ele entra em contato com o alérgeno, é como se o sistema imunológico dele reagisse de maneira mais exacerbada comparado a um paciente que entraria em contato com esse mesmo agente. Essa resposta exacerbada do sistema imunológico é que vai produzir esse processo inflamatório e, com isso, além do broncoespasmo o paciente vai apresentar os sintomas clássicos da doença que nem sempre estão presentes em todos os paciente com a mesma intensidade”, explica.
Segundo a especialista, problema gera prejuízos incalculáveis para o sistema de saúde e para os pacientes. “Quando se observa o custo dessa doença é um custo alto, desembolsado pelo próprio paciente, pela família, pelos planos de saúde e pelo sistema público. 30% dos custos diretos com a doença têm a ver com aquisição de medicamentos, pagamento de consultas e custos hospitalares e isso tudo é resultado de um controle inadequado. Agora, os custos indiretos têm relação com o absenteísmo ao trabalho e à escola, perda da produtividade, morte precoce e o sofrimento humano e isso é de valor incalculável”, lamenta.
A asma é uma doença que atinge pessoas de todas as idades, cerca de 50% dos casos são desenvolvidos em crianças até os 10 anos. Estudos mostram que o problema atinge cerca de 10% da população brasileira. Os casos graves giram em torno de 5% a 10%. E, quando avaliada na população em idade escolar, esse número pode chegar até a 20%.
Josélia Frade está à frente de ações da instituição para orientar a população sobre a doença. Foi o que aconteceu durante as atividades do Bem Estar Global, evento promovido no ano passado em nove cidades brasileiras pela Rede Globo de Televisão. A farmacêutica avalia que ainda há desconhecimento sobre a doença e falta de adesão ao tratamento contínuo, que é necessário para o controle da asma. “Toda vez que o paciente estiver em tratamento, o objetivo, além de controlar os sintomas, é prevenir a limitação do fluxo aéreo, para o que ele consiga trabalhar, ir à escola e curtir a vida, por meio das atividades de lazer, que ele evite ter crise, evite ter que correr para o hospital e fazer consulta de emergência”, explica.
Segundo a farmacêutica, o tratamento deve ser direcionado para que o paciente tenha cada dia menos a necessidade de usar broncodilatador de alívio e também deve minimizar os efeitos adversos à medicação. Foi seguindo esse tipo de orientação que a jornalista Vanessa Campos conseguiu enfrentar a doença e reduzir as crises. “Fui diagnosticada com asma aos 3 meses de idade. Tive uma pneumonia quando bebê. Passei a infância inteira sofrendo com a asma e fui diversas vezes para a emergência. Era algo bem comum na infância e na adolescência eu ir parar no hospital com falta de ar. Com o tempo, fui conhecendo novas medicações e comecei a fazer um tratamento contínuo. Hoje, utilizo uma bombinha que tem cortisona: de manhã e à noite, mas preciso manter esse tratamento para não entrar em crise. Outra coisa que ajuda a não entrar em crise é tomar a vacina da gripe. Essa foi a maneira que consegui ter qualidade de vida. Mas tenho consciência que só o uso do broncodilatador pode provocar uma parada cardíaca”, relata a paciente, hoje com 41 anos.
Neste ano, a Gina – Organização Internacional Contra a Asma – lançou um documento com novas orientações para o tratamento da enfermidade. Como destaca o médico pneumologista e coordenador da Gina Brasil, Rafael Stelmach, o tratamento contínuo e diário, com foco em prevenção, passou a ser recomendado inclusive nos casos de asma leve em que as crises são esporádicas. “A Gina coloca que para adolescentes e adultos, a partir de 2019 o tratamento deveria ser com medicamentos controladores, que melhoram a inflamação, controlam a doença e evitam as crises, chamadas de exacerbações. Neste sentido, o paciente tendo o diagnóstico de asma e exacerbações leves, moderadas ou graves, deve receber os medicamentos anti-inflamatórios obrigatoriamente e, se necessário, os medicamentos aliviadores para tirar os sintomas somente no momento em que surgirem”, detalha Rafael Stelmach.
Nos tempos em que atendia pacientes em farmácia no interior de Minas Gerais, Josélia Frade viu muitas pessoas se queixarem de tosse e buscar medicamentos para aliviar o sintoma. “Eu observava que muitos pacientes iam em busca de um xarope para tosse só que a gente suspeitava que ele podia ter asma. Então, nós o encaminhávamos para o pneumologista efetivar o diagnóstico nosológico da doença. É muito importante essa parceria entre o farmacêutico e o médico porque a farmácia apresenta grande capilaridade. Muitas vezes, os pacientes buscam a farmácia, às vezes até para se automedicar, e o farmacêutico pode fazer essa triagem e encaminhá-lo mais precocemente para o médico para que o diagnóstico seja efetivado e o tratamento correto seja instaurado”, afirma.
Josélia Frade ressalta que, apesar de existirem várias formas para se tratar a asma, é preciso que o paciente aprenda a administrar os produtos no horário e na dose correta para que o tratamento seja efetivo. É o onde o farmacêutico pode ser um importante aliado. “A grande maioria desses medicamentos são utilizados por via inalatória, procedimento que necessita desenvolver habilidade para utilização, que deve ser validada e acompanhada por profissionais. Se os pacientes usam, por exemplo, dois produtos, um tem broncodilatador e o outro que contém corticóide, que ele sempre procure usar o brocondilatador primeiro para que essa via consiga receber os medicamentos”, alerta a farmacêutica.
Para ajudar os pacientes em relação ao manuseio correto dos produtos o Conselho Federal de Farmácia produziu e disponilbiliza materiais informativos em seu site. Para conferir acesse o endereço www.cff.org.br. No portal, na coluna à esquerda, clique na aba publicações e procure as publicações no final da página. Escute também o áudio dessa entrevista na Rádio News Farma – www.newsfarma.org.br.
Fonte: CFF